60, que eu vou andando

Sim, já fiz 60. Sim, já me aposentei pelo INSS. Sim, continuo trabalhando. Não, não pretendo parar de trabalhar tão cedo... Essas são frases recorrentes que respondo desde que fiz 60 anos, em setembro último. Como tudo mais hoje em dia, em uma sociedade que pretende - e falha - ser democrática e aberta, o julgamento e as cobranças são de toda ordem, e, também, atingem quem entrou na tal “terceira idade”.

A aposentadoria é uma daquelas situações na qual quem já está, quer que os outros venham, tal como acontece com o casamento e a maternidade. Dizem que é como uma “piscina gelada”, que quem entrou não quer dizer que está ruim e chama os outros para que entrem também. Mas entendo que essas histórias são apenas generalizações, já que, na verdade, cada escolha e situação é boa ou ruim para cada indivíduo. Quem escolheu se aposentar, fez dentro de seu escopo de decisão e está correto.

No meu caso, eu nem percebi que estava chegando aos 60, levei um susto quando minha contadora falou que há mais de 1 ano eu já tinha direito a entrar com minha aposentadoria do INSS, e ainda levei um bom tempo para ter coragem de enfrentar a burocracia para fazer o pedido. Quando o pouco dinheiro veio, deixei depositado, porque não mudou em nada a minha vida, a minha rotina, e o meu trabalho que amo tanto.

Minha vida profissional e pessoal sempre caminharam juntas, e misturadas, pois sendo consultora de empresas e não tendo funcionários, as decisões da vida e da empresa sempre estiveram muito interligadas. Mas, ao fazer 60, eu decidi passar o meu legado de experiência na área e resolvi partir para uma nova etapa, criando uma nova empresa de consultoria para trabalhar junto com outras consultoras. Um grande desafio.

Mas, o que é uma vida sem desafio? Sem novos aprendizados? E sem paixão? Eu vejo um mundo fervilhando de novidades e me jogo em busca de aprender tudo o que posso. Não só aprender, mas usar também, principalmente porque me relaciono com todo tipo de público e preciso entender a linguagem e a cultura de outras gerações. Neste caso, os livros, aplicativos, webnários e podcasts me ajudam muito. Gosto de sentir como os mais jovens pensam e não sou, nem nunca fui, saudosista. Não acho que minha geração era melhor que esta e nem que tudo que fazíamos era melhor que agora. Cada geração vive seu tempo e tenta tirar o melhor dele. Sempre foi assim.

Percebo que, nesta questão também existe um fundo machista, pois tive uma reunião com dois empresários e políticos, há alguns dias e eles já estão chegando aos 70 anos. Ativos e donos de seus negócios, estavam decidindo a criação de uma outra organização e pediram minha ajuda. Em um dado momento eu olhei para eles e me perguntei: será que eles sentem a mesma pressão para se aposentarem? Será que existe uma estranheza por eles terem mais de 60 anos e continuarem seus negócios? Por que então, acham que as mulheres, em algum momento, precisam ir para casa fazer tricô e crochê? E olha que não tenho nada contra os trabalhos manuais, e até faço meus bordados nos poucos tempos livres que tenho. Mas não preciso me aposentar para isso.

Sei que nesta idade somos mais suscetíveis a doenças e elas podem acontecer e reduzir o nosso ritmo, ou até impedir que possamos seguir, mas se isso não acontecer, vou seguindo em frente. Portanto, não me perguntem quando vou parar. Mas podem me perguntar qual vai ser o meu próximo trabalho.

60, que eu vou andando - 2

Comentários

Escreva um comentário antes de enviar

Houve um erro ao enviar comentário, tente novamente

Por favor, digite seu nome
Por favor, digite seu e-mail