A Força de um Tsunami e os modelos organizacionais!

Quando criança eu tinha um sonho recorrente no qual uma onda vinha subindo e ia nos afogando, então eu me amarrava em um coqueiro para a onda não me levar, depois a água ia subindo até me tirar o ar e eu acordava. Hoje eu penso que que esses sonhos podem ter sido causados por algum filme que assisti, reforçado pela situação de insegurança que tínhamos, com meu pai sempre viajando e as dificuldades financeiras que enfrentávamos. Por que eu sonhava com esse tsunami (que na época eu nem sabia que se chamava assim) se moro a mais de 2.000 km de qualquer oceano? O fato é que cada vez que vejo uma notícia sobre tsunamis, esses sonhos surgem na minha memória.

Hoje sei que a água é implacável, que quando quer tomar um espaço ela vem com tudo, passa pelas frestas, rompe barreiras e segue seu caminho. Mas não surge do nada, como muita gente fala, sempre tem sinais anteriores que teimamos em não ver. Uma nuvem, uma chuva ou um relâmpago podem ser sinais de uma enchente. O caso do vulcão subaquático que foi a causa do tsunami em Tonga, neste final de semana, deu sinais também. O vulcão já tinha dado pequenas explosões anteriores e causado pequenos tremores, até que explodiu de uma vez.

Penso que com as ideias e tendências também acontece a mesma coisa. Elas surgem pequenas, dão sinais, aparecem e depois parece que somem, e, de repente, veem com toda força arrastando e derrubando tudo. O exemplo mais recente foi o que aconteceu com as tecnologias digitais de marketing e venda, com a chegada da pandemia. Todos sabíamos que essa forma de fazer negócio vinha crescendo e que, em algum momento, ela ia ser preponderante. Alguns foram se preparando, outros não acreditavam que iria acontecer e quando ela veio, foi como um tsunami, arrastando tudo, fazendo as pessoas correrem em busca de soluções para não serem afogadas pela onda de tecnologia que se aproximava. “Fujam para as montanhas!” não resolve para este tipo de onda.

Acredito que agora vai ser a vez das tecnologias sociais e de gestão. Ainda no final do século XX já se falava que o modelo organizacional e gerencial adotado pelas organizações não condizia com a evolução da sociedade. Que a lógica “comando-controle” estava com seus dias contados, mas esta forma de liderar as organizações vem sobrevivendo, com muitas melhorias, concordo, mas nada que revolucionasse o que já existia.

A partir dos anos 2000, com o avanço das tecnologias de comunicação, pequenas aberturas foram sendo feitas nas organizações, que já não tinham como manter as informações só no nível estratégico. Com novas gerações chegando e que não aceitam mais serem apenas “co-mandadas” mas sim querem participar do processo, rachaduras sérias começam a aparecer no modelo em vigor. Para que o modelo desmorone, falta pouco e deve acontecer não só nas organizações empresariais, mas também nas organizações públicas que tem o modelo menos sustentável de todos, já que a sociedade não quer mais pagar caro por serviços tão precários.

O que vai causar esse novo tsunami eu não sei, mas vários fatores estão na lista de causas, incluindo a própria tecnologia; as novas consciências sobre a sociedade e o meio ambiente; as guerras de poder envolvendo políticos e grandes empresários e, até mesmo, uma guerra real que está sempre na iminência de acontecer. Tudo isso, acrescido das mudanças no sistema de trabalho já trazidos pela pandemia, que apurou uma vontade de se viver mais a vida e não apenas o trabalho, e que o modelo organizacional que temos hoje não nos permite.

O fato é que o modelo está ultrapassado, baseado, em grande parte, na famosa pirâmide organizacional e usando parâmetros da revolução industrial do início do século passado, apenas com alguns “ajustes”. Vem surgindo uma nova onda, mais humanizada, mais de acordo com o contexto da uma sociedade que busca significado para suas ações e de pessoas que querem ser mais integrais na vida e no trabalho. Espero que desta vez eu não me amarre no coqueiro e consiga nadar e sobreviver junto com a onda. Estou me preparando para isso.

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