Semana passada foi, para mim, uma semana de perdas de pessoas de referência. Sou muito ligada em música e sempre tive a Gal Costa como a minha cantora preferida, não só pela sua voz, mas pela sensibilidade de escolha do seu repertório. Sua morte me fez reviver suas músicas e todas as lembranças que elas causam em mim, muitos sentimentos bons!
Também morreu Rolando Boldrin, que acionou meu lado caipira, de coisas do campo, das histórias que ouvi dos meus pais e avós, ou como Boldrin dizia: “os causos de onça”, que dominaram minha infância vivida em uma família grande, cheia de gente reunida e muitas histórias para contar.
Mas nenhuma destas mortes mexeu tanto comigo quanto a morte do meu primeiro mestre de profissão, o professor Mário Moraes Zoja. Ele, na verdade, perdeu a vida para a COVID19, no começo de 2021, mas só agora, em um encontro casual com sua filha, fiquei sabendo de sua morte, o que me deixou muito reflexiva sobre sua importância na minha vida e no que sou hoje, como pessoa e profissional.
Uma das coisas que mais tenho orgulho na minha vida é da quantidade de amigos, clientes e mentores que fui colecionando, o que causa em mim um senso muito forte de responsabilidade em retribuir o que recebi. Mas o Zoja (se pronuncia Zóia), foi uma luz que surgiu no meu caminho e mudou a direção de tudo o que eu seria dali para frente. Ele me mostrou o que é ser um consultor e me despertou o desejo de seguir esta profissão, que eu passei a perseguir, até realizar. Vejam, eu tinha, na época, uns 24 anos, era programadora de computador, tinha uma carreira pela frente na área de informática, ou TI como chamamos hoje, e o professor Zoja chegou como um consultor renomado, que trabalhou nos EUA em grandes empresas de consultoria, era uma referência e foi contratado para desenvolver um projeto na empresa que eu trabalhava. Entre tantas pessoas que poderiam ser escaladas na empresa, ele me escolheu, depois de alguns testes e entrevistas, para ser a contrapartida do trabalho dele em gerenciamento da rotina. Foi como tirar a sorte grande na loteria do aprendizado.
Dentre tantas coisas que o Zoja me ensinou, eu destaco a humildade profissional, que significa perguntar o que não sabemos ao invés de querer parecer melhor que todo mundo e ficar tirando conclusões sobre o que não foi atrás para esclarecer. Ele dizia que um bom consultor precisa “cavar” para entender exatamente o que está por trás de uma situação, observar as pessoas e o ambiente para perceber as nuances, perguntar de novo, estudar e cruzar informações até esclarecer o fluxo completo do processo e oferecer alternativas de solução. Ele atuava com o antigo “OSM” (Organização, Sistemas e Métodos), que foi minha escolha quando deixei a área de TI para seguir o caminho da consultoria organizacional, 10 anos depois do nosso primeiro trabalho, em um projeto a convite do próprio Zoja.
De lá para cá já segui vários rumos sozinha, passando por muitas metodologias e tecnologias, me aprofundando cada vez mais no que diz respeitos às pessoas, equipes e lideranças, mas os ensinamentos do meu primeiro mestre eu nunca esqueci. Ele me ensinou a ser discreta no processo de ajuda e a deixar o cliente brilhar, lição que eu nunca esqueci. Consultoria é uma profissão de ajuda e ela só acontece de maneira genuína se tivermos abertura pessoal para nos despojarmos da vaidade de queremos ser melhores do que aqueles que precisam da nossa ajuda. Precisamos entender que nós temos nossa experiência e conhecimento técnico e que junto com as experiências e conhecimentos dos nossos clientes é que vamos construir um novo conhecimento e solução que pertence àquele cliente e não a nós. Não existem soluções iguais, pois cada cliente é único. A nós consultores cabe fazer o nosso trabalho e sairmos discretamente para comemorar mais um trabalho realizado. São lições preciosas para as quais só tenho que dizer: Obrigada, mestre Zoja!
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