Árbitro de vídeo!

Nas últimas semanas fomos aos poucos sendo invadidos por um gesto novo vindo dos árbitros de futebol (ou juízes de futebol), que faziam quadradinhos no ar durante os jogos da Copa do Mundo. Fomos apresentados a um novo termo do mundo dos esportes: o “Juiz de Vídeo”. Os árbitros de futebol pareciam meio tímidos no início, não solicitavam a ajuda da tecnologia inusitada, mas com o decorrer dos dias, foram vendo que estavam sendo colocados em “check” por milhões de pessoas que viam o que eles não conseguiam, ou se negavam a ver. Antes da tecnologia ser disponibilizada, a palavra do árbitro era lei dentro de um campo de futebol e ninguém podia duvidar, mas ter a possibilidade de melhorar seu julgamento e não usar foi se tornando um peso para os árbitros, que, na dúvida, passaram a recorrer a ela.

Esse é um exemplo bem claro de como nossas vidas, em todos os sentidos, vão sendo invadidas pela tecnologia e pelas telas e, mesmo quando queremos resistir a elas, acabamos nos rendendo em algum momento, dada a sua força de presença e de facilidades. Tudo que é novo assusta e causa resistência, mas se é bom, fica e vai persistindo, até que passa a fazer parte do cotidiano e vai tomando o lugar das pessoas, naquilo que elas têm mais dificuldades de fazer, neste caso o campo de visão. Sabemos que o nosso sentido da visão é bem restrito, pois depende de ângulos, iluminação, foco de atenção e ponto de vista. Além do mais o cérebro tem uma tendência em nos sabotar e, por isso, um equipamento deste consegue suplementar o que nossa visão não capta e nosso cérebro duvida. Mas a tecnologia sempre pode evoluir e permitir mais, e muitos juízes de futebol já devem estar se perguntando se vão ser substituídos em definitivo pela máquina. É bem provável que sim.

Do mesmo jeito que os taxistas tinham preocupação com o Uber, e ele veio para ficar, o “juiz de vídeo” só vai se aprimorar com o tempo, agora que já venceu a primeira barreira: entrar no templo do futebol, que são as arenas da Copa do Mundo. Os “VAR” (sigla em inglês de “video assistant referee”, ou árbitro assistente de vídeo) como são chamados, criaram até um novo motivo de comemoração das torcidas, que é quando, depois de minutos de suspense, a câmera de vídeo confirma um “não gol” ou um “não pênalti”, mudando uma cultura já consolidada nos campos de futebol.

Com tantas possibilidades de câmeras nos campos de futebol, daqui um tempo não tem mais sentido o árbitro de futebol ficar correndo junto com os jogadores. Ele pode fazer isso de uma situação mais confortável, fora do campo, com muitas regras já sendo analisadas pelos computadores, cabendo ao árbitro, apenas dar o parecer final. Ou seja, vamos precisar dos bons árbitros para analisar os dados e dos que são mais adaptados a essa tecnologia; profissionais mais velhos e experientes vão poder continuar atuando, mesmo quando não possuem mais o vigor físico da juventude para ficar se deslocando no campo.

Certamente que essa situação vai atingir outros esportes e, talvez, até mesmo outros juízes ou árbitros. Durantes esses dias da Copa, vimos muitos “memes” que colocavam o “juiz de vídeo” em várias situações, anulando casamentos, revendo cenas de trânsito e outras, mas quem pode garantir que logo, com tantas câmeras de vídeos espalhadas nas nossas vidas, elas não passem a ser efetivas protagonistas nos julgamentos de todos os tipos? Coadjuvantes elas já são. Mas mesmo que sua utilização ainda seja contestada devido a possibilidade de manipulação, a tecnologia só avança e logo vamos ter alguma forma de ter uma certeza inquestionável da veracidade de um vídeo e vamos estar sendo filmados de tantas formas, que não vai ser mais possível negar o que fizemos. Vamos ser como esses jogadores de futebol a quem só resta agora “sorrir, porque estão sendo filmados”.

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