Domingo fomos na praça para comprar figurinhas do álbum da Copa com o nosso neto Joaquim e aproveitar para trocar figurinhas repetidas em um espaço criado na praça, ao lado da banca de revistas, só com esta finalidade. Não há como não comparar os álbuns, as figurinhas e todo o processo de troca de hoje com o que acontecia quando eu era criança e meus irmãos colecionavam as tais figurinhas.
Primeiro que as figurinhas de hoje são autocolantes o que facilita muito o trabalho de colar. No nosso tempo a gente tinha que fazer cola de trigo para colar as figurinhas, pois mesmo a cola branca, tão comum no tempo dos meus filhos, não era disponível no meu tempo. A gente usava cola de trigo ou a “goma arábica” – uma cola cor de melaço que vinha em um dispositivo de vidro com um pincel. Como essas colas não eram fáceis de dosar, quase sempre a gente colocava cola demais e colava as páginas do álbum, tendo que recorrer às nossas mães para colocar o álbum no vapor das panelas e derreter um pouco a cola e assim descolar as folhas o que, às vezes, causava o descolar do restante das figurinhas.
Também me chamou atenção o sistema de trocas de figurinhas na praça. Um local todo preparado com mesas e cadeiras à vontade para que pais e filhos pudessem se acomodar e começar as negociações das figuras repetidas. Percebo que os pais, bem mais que os filhos, se entusiasmam nestas trocas e negociações. Quando me reporto ao passado, parece impossível ver meu pai sentado comigo e meus irmãos para fazer troca de figurinhas. Acho que meu pai nem sabia se tínhamos álbum, a não ser pelo fato de pedirmos algum dinheiro para ele, quando estava em casa, nos intervalos de alguma viagem a trabalho. Minha mãe participava mais devido a questão das colas que eram feitas na cozinha dela e ela se interessava pelo que estava acontecendo.
As trocas de figurinhas de antigamente eram todas feitas por nossa conta e a maioria eram definidas no jogo do “bafo”. Nem sei se jogam este jogo ainda, mas devem jogar, no qual se empilha várias figurinhas repetidas viradas para baixo e os jogadores batem com a mão um pouco fechada, para criar um vácuo e assim conseguir desvirar o máximo de figurinhas que conseguir, ficando com elas e torcendo para serem figurinhas não repetidas. Rodas de bafo eram animadas e saiam muitas brigas, pois eram mediadas pelos meninos mesmo. Eu acompanhava com meus irmãos, pois eu não tinha álbum. Não era comum as meninas terem álbum de figurinhas de futebol na minha época, o que era entendido como “coisa de guri”. Mas domingo, na praça, eu percebi diversas meninas com seus álbuns fazendo as trocas de igual para igual com os meninos, sinal das mudanças de consciência da sociedade.
Por fim, quero falar do aplicativo de celular que gerencia as figurinhas atualmente e que mostra quantas figurinhas tem no álbum, quantas faltam e de que time etc., ajudando nas negociações e mostrando em que momento é melhor comprar figurinhas, em que momento vale mais a pena trocar ou comprar repetidas de alguém. Como tudo no mundo moderno, temos evoluções e tecnologias que acompanham o nosso tempo, mas tem algumas coisas que ficam, como o gosto pelo futebol e o interesse pela copa do mundo e pela seleção brasileira, mesmo quando achamos que “dessa vez não vou nem acompanhar” e logo nos pegamos torcendo e sofrendo pela nossa seleção.
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