É difícil desejar um “Feliz dia das Mulheres” em 2022 enquanto assistimos na TV, e nas outras mídias, as imagens de tantas mulheres seguindo estrada afora, carregando seus filhos, levando alguns pertences, arrastando suas malas, fugindo de uma guerra insana, resultante da sede de poder e da busca de domínio de território, como o que acontece na guerra entre Rússia e a Ucrânia.
Fico olhando aquelas mulheres e pensando que muitas são profissionais liberais como eu, ou trabalham em alguma organização, ou são donas de casa, mas acima de tudo, são filhas, mães, avós ou esposas, enfim, mulheres em fuga desesperada, deixando tudo o que construíram para trás, inclusive seus companheiros, para salvarem suas vidas e de suas famílias. As imagens são chocantes, mas, ao mesmo tempo, representam nossas lutas, como seres humanos, em busca de nossa sobrevivência e de nossas famílias e, especialmente, a luta de nós, mulheres, em todos os tempos e em todos os lugares.
Não culpo o sexo masculino por esta guerra, embora tenhamos lideranças predominantemente masculina nos países mais influentes na sua decisão e continuidade, mas culpo a masculinidade exacerbada, que exalta a medição do poder e a demonstração de capacidade de destruição, como sendo fatores de fortalecimento de suas lideranças. Não é isso que se trata liderar! Liderar é sobre influenciar pessoas. Só que líderes autocratas que não conseguem influenciar por bem, tentam dominar com todo tipo de força, incluindo a bélica. Vemos isso muitas vezes, guardada as devidas proporções, nas nossas organizações, quando um líder autoritário percebe que não consegue levar sua equipe a fazer o que ele quer e usa de poder, e até de manipulação, para obter seus objetivos.
A energia feminina, ao invés da força física, se concentra mais na intuição, na emoção e na humanidade para o exercício da liderança, abrindo mais espaços para a colaboração e para atitudes mais pensadas e menos prejudicial ao bem comum. Não quero dizer que todas as mulheres líderes são assim e nem que todos os líderes precisam ser mulheres, mas, sim, que é preciso trazer as características femininas para termos um novo tipo de liderança.
Voltando às imagens da guerra na Ucrânia e naquelas fileiras imensas de mulheres fazendo o caminho contrário dos homens, que estavam indo para a batalha, parece que voltamos a uma velha lógica: os homens pegam em armas e as mulheres cuidam da família. Sei que no exército tem muitas mulheres, mas as imagens trazem uma ideia de que as mulheres continuam sendo as que mais sofrem as consequências de uma guerra decidida por homens, porque ficam tentando, em casa ou em fuga, proteger a família enquanto as bombas caem e a comida falta.
O dia 8 de março sempre foi um dia de luta e continuará sendo até que tenhamos motivos suficientes para uma comemoração mais feliz, talvez quando todas as mulheres forem livres, quer seja dentro de casa, sem relações abusivas; quer seja dentro de religiões, que oprimem as mulheres como se elas fossem a causa dos pecados do mundo; quer seja nas organizações, tendo mais oportunidades de exercerem sua liderança; quer seja em um mundo sem essas guerras que bombardeiam suas casas e as expulsam de seus lares arrastando seus filhos.
Observando a guerra pela tela, parece que nossos problemas reais se tornam pequenos, mas temos que continuar com nossas lutas diárias por mais espaços, com a mesma determinação das grandes batalhas. Esse é o nosso espaço possível e não podemos desperdiçá-lo na tentativa de mudar essa lógica da força bruta sobrepondo o diálogo, e assim garantir uma vida de mais felicidade para que nossos filhos e netos possam ter um mundo realmente melhor.
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