Já evoluímos muito, mas não para todos!

Dia das Mulheres 2021

Estou assistindo uma série no Netflix chamada Bridgerton, baseada nos livros da autora Julia Quinn, de quem eu já havia lido vários livros. Aliás, li muitos romances com histórias do século XVIII durante a pandemia, especialmente da corte britânica, onde a luta das mulheres para serem alguém além de um dote no casamento é uma prova para não duvidarmos das conquistas que nós, mulheres, obtivemos de lá para cá, especialmente nos países ocidentais. As mulheres da corte tinham privilégios como uma boa educação e cultura, boa comida e roupas luxuosas, mas tudo feito em função de encontrar um marido e não cair no estigma de ser uma “solteirona” e viver para cuidar dos pais, ou de uma tia mais velha.

As mulheres da plebe, naquela época, não tinham direito a nenhum recurso, nem estudo, viviam na miséria, mas podiam ter um pouco mais de liberdade de escolha, embora, mesmo a plebe sendo espezinhada, costumavam seguir alguns costumes da corte, especialmente em relação às mulheres. Os filhos ilegítimos eram tantos, devido a quantidade de traições e falta de contraceptivos, que até existiam orfanatos próprios para abrigar os filhos bastardos dos lordes, tirados de suas mães para não lhes causarem problema futuros. Os escândalos aconteciam o tempo todo, pois apenas o fato de uma moça desacompanhada conversar com um rapaz em um ambiente, ainda que aberto e a certa distância, já era motivo para desonra e até de “duelos” entre os pais e irmãos.

Quando revisitamos a história podemos ver o quanto o mundo ocidental avançou em relação às mulheres, mesmo tendo ainda tantos espaços para evoluirmos. Mas o mundo não evolui por igual, como pode visto pela notícia dos últimos dias sobre o martírio de uma princesa de Dubai, mantida em cárcere privado pelo seu próprio pai que não aprova sua conduta. Isso sem contar as inúmeras “Malalas” que estão fechadas em suas casas sem poder estudar e meninas de alguns países africanos vendidas pelos seus familiares, para citar alguns exemplos. Mesmo ao nosso redor, também estamos assistindo todos os dias a crescente onda de violência contra as mulheres, aplicadas por seus maridos e namorados que se acham seus donos e se sentem ultrajados com a evolução feminina.

Por que existe essa vontade de poder de muitos homens sobre as mulheres? O que leva um ser humano a se achar melhor que o outro? Neste artigo estou me atendo especificamente à questão feminina, mas é o que acontece em outras situações também. Por mais que tenhamos explicações científicas e acadêmicas, é difícil entender pela nossa lógica particular, a causa dessas barbaridades, uma vez que envolve culturas, hábitos, conhecimentos repassados pelas gerações e tantas outras variantes.

Minha avó paterna era filha de um sueco e de uma matogrossense e foi criada e viveu em um misto de civilização mais avançada e de atrasos. Ela se casou com um homem cuja família vivia em uma fazenda, com a comunicação possível do final do século XIX em pleno pantanal, com costumes que não acompanhavam a modernização que já começava a existir nos grandes centros. Ela contava que a única saída para elas, mulheres daquela época, era o casamento, e que os poucos eventos a que iam eram as únicas chances de encontrar um marido que fosse considerado adequado a pedir sua mão, e assim formar uma família, ter filhos e ter uma história, por assim dizer. Dizia que uma cunhada dela se apaixonou por um empregado da fazenda, praticamente o único homem que conheceu, e que seu pai não deixou que ela se casasse e por este motivo ela se enforcou em uma árvore próxima à janela do seu quarto, pois não aceitava ficar solteira e terminar seus dias naquela fazenda.

Quando mais velha, minha avó morava na minha casa e depois que meu avô faleceu dormia no meu quarto. Conversávamos muito e ela gostava de me dizer para agradecer a Deus por eu ter uma vida diferente, poder estudar e namorar com quem eu quisesse e poder ser uma profissional e ter minha autonomia. Dizia que me contava essas histórias para eu entender o quanto eu era feliz de viver em uma época diferente da dela.

Essas histórias da minha avó sempre balizaram a minha vida adulta, no sentido de valorizar as conquistas que nós mulheres conseguimos e o quanto precisamos continuar atentas para não retrocedermos, e determinadas em avançarmos em busca da igualdade, não apenas para nós, mas para todas as mulheres que ainda vivem como na idade média, sendo objeto de troca ou prova de poder para homens mal resolvidos, mal-informados ou doentios.

Com tudo que estamos vivendo nesta pandemia, as reclusões, as triplas jornadas com filhos, o atendimento aos pais e todas as responsabilidades do lar que acabam ainda recaindo mais nos ombros das mulheres, esse dia das mulheres precisa ser de muitas reflexões sobre o rumo que estamos tomando no mundo e o quanto a força feminina pode ser um diferencial. Feliz Dia da Mulher!

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