O meu dia da mulher!

Dizem que o peixe só percebe a água quando sai dela e acho que, para algumas coisas na vida, também acontece assim. Lutamos tanto, vivemos intensamente e, às vezes, nem temos tempo de refletir sobre nossas conquistas e evoluções. O dia da mulher para mim, é isso, um estímulo para sairmos de dentro da “água”, olharmos o nosso entorno e percebermos o quanto evoluímos; no que fomos tolhidas; que barreiras, ou excessos de “cuidados”, tivemos que enfrentar, seja de nossos pais, chefes ou companheiros, para conseguirmos desde coisas simples em casa, até grandes sucessos na vida.

Quem nasceu no final da década de 1950, como eu, entrou para a vida na década seguinte, que foi repleta de revoluções de costumes e muita guerra de geração, tendo pais muito receosos de que os filhos fossem virar “hippies”. Existiam pais e mães com cultura machista e abusivas sim, mas a maioria buscava o melhor para suas filhas, sem entender que desta forma estavam mais prejudicando do que ajudando.

As aberturas para as mulheres foram bem rápidas neste período e quando eu cheguei na juventude, na década de 1970, a batalha de nós, mulheres, com nossos pais, eram até bem prosaicas, como: sair com o namorado sem levar a famosa “vela” (irmã ou amiga acompanhante); poder chegar depois da meia noite; vestir um short ou saia mais ousada; acampar com os amigos, etc... Embora esses cuidados se contrapusessem aos ambientes que já frequentávamos, escondidas ou não, onde rolava “sexo, droga e rock’n roll”, para quem estivesse a fim. Não havia a mesma preocupação com nossos irmãos homens, que podiam ir a todos os lugares, como se eles, por serem homens, saberiam o que podiam ou não podiam fazer e os riscos que podiam ou não correr. Nós éramos frágeis e mais suscetíveis aos perigos, segundo nossos pais.

Na década de 80, quando me casei, a maioria das mulheres já não se casavam virgens, mas as famílias ainda fingiam que não sabiam de nada. Se casasse grávida os pais diriam que o neto nasceu de 7 meses, mesmo sabendo que ninguém iria acreditar. Neste caso, reinava hipocrisia para manter a “moral” da mulher. Não do homem, lógico, ele até era visto como o garanhão que não ia deixar passar uma oportunidade.

No trabalho sempre frequentei ambientes masculinos, já que trabalhava em informática e eu era uma das primeiras nesta profissão em Mato Grosso. Não havia nenhum código ou instrução específica para enfrentar as dificuldades com os homens, nós íamos batalhando e enfrentando os “cuidados” e os preconceitos explícitos sem nem entender muito bem como. Tive que implorar para chefes me darem trabalhos mais complexos e que precisariam trabalhar a noite, porque eles queriam me proteger; tive que brigar com meu pai que não queria que eu saísse para trabalhar a noite para resolver problemas em sistemas, enquanto o motorista da empresa aguardava na porta; tive que batalhar para ir fazer curso em São Paulo porque eu tinha filhos e eles escolhiam os programadores homens para fazer.

Nos casamentos, somos a geração em que os maridos passaram a “ajudar” em casa e isso já foi um grande avanço, pois eu nunca vi meu pai lavar uma louça em casa. Minha mãe levava a toalha e chinelo na porta do banheiro para ele e quando uma criança chorava a noite, ele punha o travesseiro na cabeça para não ouvir. Meu marido era solidário comigo nas mamadas noturnas, trocava fralda e dava banho nas crianças melhor que eu, mas a responsabilidade sempre foi minha de dar remédio, comida, levar no médico e tudo mais, o que era normal na época. Hoje, cuido da minha mãe e meus irmãos repetem comigo o mesmo tratamento, achando que, por eu ser filha mulher, tenho esta obrigação de cuidar dos pais. Veja que as coisas mudaram, mas ainda não mudaram na essência.

Por isso, quando vejo umas bandeiras feministas como a mais recente, de não usar o nome “tomara que caia” para os vestidos sem alça, por ser uma expressão machista, eu vejo que estão em um debate muito raso. Querem mexer em palavras e não em atitudes. Tanto mexem em palavras que desgastaram até a própria palavra “feminismo”, tirando dela o que a criou, que foi o “feminino”. Não somos iguais aos homens, enxergamos a vida diferente deles, temos vantagens na questão relacional, mas dificuldade de nos arriscar devido ao nosso instinto materno de preservação da prole... enfim temos diferenças até de coisas intuitiva, de nosso lado animal, que precisam continuar, pois é com o instinto que cuidamos de nossos filhos, enquanto estão em nosso ventre, durante a amamentação e quando ainda são muito dependentes de nós.

Precisamos continuar evoluindo, corrigindo excessos, lapidando relações e punindo, pronta e severamente, os crimes reais que ocorrem quando esta relação “homem x mulher” extrapola o aceitável. Mas precisamos, principalmente, construir uma sociedade que não seja nem patriarcal e nem matriarcal, mas de interdependência entre homens e mulheres, respeitando o grau de feminino e masculino de cada indivíduo, para que possamos conviver e resolver os problemas reais e complexos de nossa sociedade. Sou feliz por ser mulher, por ter vivido tudo o que vivi, ter evoluído nos meus conceitos e preconceitos sobre esse tema e admiro os homens por sua evolução nestes anos todos. Feliz dia de reflexões sobre as mulheres!

O meu dia da mulher! - 2

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