Os desafios da participação social efetiva!

É comum as pessoas conhecerem um empresário de sucesso e torcer para que ele passe a administrar uma organização pública ou até mesmo sua cidade, estado ou o país. Parece bem lógico: se ele consegue administrar uma empresa e dar bons resultados, vai ser fácil enfrentar os desafios da administração do setor público. Quem tentou, viu que não é bem assim, os desafios são enormes.

Mesmo um político que sempre foi do legislativo, só passa pela “prova de fogo” do setor público quando é alçado a um cargo executivo, pois é nele que se percebe, na prática, que o desejo e a disposição de fazer não bastam para que as realizações se concretizem.

Quando entrevistei o empresário Francis Maris, dono do Grupo Cometa, ele recém tinha deixado a prefeitura de Cáceres, em Mato Grosso, depois de um mandato de 8 anos, realizado com muito sucesso, apesar de ter recebido uma administração em uma situação caótica, com salários atrasados e dificuldades de todo tipo. Ele disse que queria muito retribuir à cidade que o acolheu tudo o que ela lhe havia dado, mas que não imaginava as dificuldades que enfrentaria.

Ser um empreendedor, começar um negócio do zero, sem dinheiro e fazer com que ele tenha sucesso e se torne uma empresa reconhecida e sólida, na área de veículos e do agronegócio, como é o Grupo Cometa, é bastante desafiador. Mas nada disso deixa uma pessoa preparada para o excesso de burocracia e a falta de agilidade do serviço público, além da falta de flexibilidade na alocação e remanejamento dos servidores públicos.

Francis disse “ao iniciar minha gestão, a cidade não tinha computador, meu primeiro ato em 2013, foi comprar, com meu dinheiro, um servidor e doar para a prefeitura. A internet era tão lenta, que era melhor mandar uma pessoa de bicicleta para levar as informações”. Essa realidade é tão longe do dia-a-dia de um grande empresário, que o choque inicial é muito grande. Ele precisa descer degraus de sua evolução para entender o que está acontecendo e poder atuar.

Além disso, há o processo de corrupção sistemático que já existe em boa parte das organizações do setor público, que tenta cooptar o recém-chegado e quando não consegue, começa a boicotar sua atuação. Francis conta que teve que acionar a justiça para desbaratar uma quadrilha que existia na prefeitura, na área da saúde do seu próprio governo, e que já vinha de muito tempo.

Eu acompanhei o mandato do Francis na prefeitura e atuei junto a sua equipe estratégica durante um tempo e pude perceber a luta por recursos que uma prefeitura enfrenta, especialmente devido às incoerências do “pacto federativo”, que define a repartição das receitas e que coloca os municípios no fim da fila em termos de recursos, sendo que é ele que está diretamente envolvido na prestação dos serviços aos cidadãos.

Todos esses desafios enfrentados por um empresário no setor público, só valem a pena se for por algum tipo de ganho. Para alguns, o ganho é de imagem, para outros o ganho é via corrupção, mas, para pessoas como o Francis, o que vale é a participação social. É poder dormir com a satisfação do dever cumprido e de poder fazer críticas fundamentadas, sabendo que já deu sua contribuição e conhece bem a causa.

Mas a participação social nem sempre é fácil, pois tal como qualquer processo democrático, tem um preço, e esse preço é a disponibilidade de tempo. Em uma época na qual o tempo e a atenção passaram a ser materiais de luxo, como vamos ter líderes públicos e políticos melhores no futuro? Quantos mais vão estar dispostos a doar o seu tempo em função do bem comum? Talvez a política e a democracia tenham que se reinventar para atender às novas demandas da sociedade, mas, por enquanto, não há sinais de que isso vá acontecer tão cedo, pois nem mesmo a pandemia está mudando a cara da política, pelo menos em nosso país.

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